segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

LUIZA VOLTOU DO CANADÁ E NÓS JÁ FOMOS MAIS INTELIGENTES

Gerardo Rabello, reunido com a família para falar do “novo endereço da sociedade paraibana”, pronunciou uma frase enfática: “É por isso que eu fiz questão de reunir toda minha família, menos Luiza, que está no Canadá”.

A publicidade teve um impacto inesperado. O vídeo foi assistido milhares de vezes, propiciando a venda dos apartamentos de luxo. E a Luiza, que estava no Canadá (e entendemos que isso também mostra status, pois o Canadá é um país de primeiro mundo, cujas línguas oficiais são o inglês e o francês – chiquérrimo, não é verdade?) voltou.

A vida da moça mudou. Não só gravou um comercial sobre os apartamentos, como também foi procurada por programas de TV e por empresas de publicidade.

No Jornal do SBT, na quinta-feira, 19 de janeiro, Carlos Nascimento ironizou: “Luiza voltou do Canadá e nós já fomos mais inteligentes”.

O impacto da frase de Carlos Nascimento fez com que muitas pessoas refletissem sobre a superficialidade que impera na mídia. O interessante é que os programas que abordam assuntos mais sérios, em geral, têm menos audiência. Parece que popularidade e superficialidade andam de mãos dadas. Mas será que isso é uma atitude nova no ser humano? Lembrei-me de Heráclito de Éfeso, um filósofo que desprezava o povo porque, em sua opinião, o povo era incapaz de refletir sobre questões sérias. Platão, o filósofo ateniense, também colocou na boca de Sócrates reflexões sobre o assunto no livro “Alcibíades”. O jovem Alcibíades era belo e ambicioso. Ele falava o que o povo queria ouvir para aumentar a sua popularidade, e o povo o seguia.

Os seres humanos mudam exteriormente: roupas, objetos, tecnologia, mas interiormente as mudanças são mais lentas. Na Roma falavam que para dominar e evitar revoltas só era necessário dar ao povo “pão e circo”. Atualmente, a mídia impera. A internet chegou para ficar, e com o poder de despertar interesse, mexer com emoções, criar ídolos da noite para o dia. A Luiza se tornou famosa “em um abrir e fechar de olhos”, enquanto muitos cientistas que trabalham em pesquisas que poderão ajudar a vencer doenças graves, ecologistas que lutam pela sustentabilidade do planeta, em geral, são figuras anônimas. Entendemos a revolta do jornalista Carlos Nascimento, mas parece que o binômio “popularidade-superficialidade” não é tão novo quanto parece.

Isabel Furini é escritora, poeta premiada e palestrante. Autora de O Livro do Escritor da Editora Instituto Memória. Orienta oficina de contos e crônicas no Solar do Rosário. Fones (41) 3225-6232 (41) 8813-9276.

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