segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A casa paterna (poema de Isabel Furini)


Trituradas as guelras do silêncio
sobre o velho álbum fotográfico.

O pai (morto há anos) sobrevive nos retratos desbotados.
Revelam-se fisionomia e emoções.

Quantos olhares,
quantos rostos deixei submersos
nos interstícios da memória,
quantos exílios na areia do passado e exílios futuros
projetados no palco dos sonhos.

Genealogias, uivos e fumaça despencam do
álbum fotográfico aberto sobre a mesa.

Observam-nos os mortos,
pousam nas fotografias como estacas de mutismo.

Amam-nos.
Esperam-nos (sedentos de carinho) com os braços paralelos
abertos entre galáxias de culpa e de mistério.
                                                               Imensamente abertos.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.

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